PALAVRAS SÃO MAGIAS**

Fico bolinando palavras como se fossem peças

com as quais se conserta o mundo.

Fico demolindo cidades e grades, desencadeando revoltas,

revisitando heróis idos e revoluções remotas.

Jogo minha rede no mar dos ensejos,

na ânsia de pescar liberdade,

mas prendo na minha teia de versos somente anseios,

peitos pulsantes, silentes andarilhos,

crianças magras dos faróis.

Com eles crio enredos, monto exércitos,

tomo de assalto os palácios, o governo.

Com eles comando a massa na praça

microfone na mão, alarde, revolução...

Noutro dia me perco, me enrosco em versos tristes.

Apático, anônimo, lúcido, me aquieto.

Estrategicamente recuo. Dou-me conta do frágil,

do inconsistente. Temo o poder, o veto, o crítico literário.

A tudo engaveto: meus sonhos, meus dons, meus versos.

Palavras...

Guardo tudo num universo paralelo

e sigo, à margem, pagando o preço dos anônimos,

vendo glórias alheias no outdoor da praça.

cp-araujo@uol.com.br