Véspera do Fim do Mundo
Uma chuva pesada cai lá fora
Há três dias.
Dessas que não param de fazer
As telhas gemerem.
Também gemo.
Chovem cigarros acesos em mim
Sufoco com seus anéis azuis
De fumaça.
Sinto-me destituido de minha liberdade
E da coragem de reave-la.
Sou admoestado pela minha insegurança
E sigo prostrado atado
Aos nós das dúvidas.
O ônus por ter perdido a autonomia
Da solidão auto-imposta;
O jugo da autocomiseração
Disfarçada em felicidade.
Como a ruína de uma Laranja Mecânica.
Aproveito a escuridão da falta de energia
Com portas e janelas trancadas
Às quatro da manhã
Com galos cantando
Coberto até o pescoço por cinco lençóis
Perdendo-me cada vez mais no breu
De minhas entranhas
Que latejam de saudade
e dor
Do que um dia fomos
No Outono-Inverno
Da véspera do fim
Do mundo.
20/11/2011 - 00h30
Placebo - Sleeping With Ghosts