Véspera do Fim do Mundo

Uma chuva pesada cai lá fora

Há três dias.

Dessas que não param de fazer

As telhas gemerem.

Também gemo.

Chovem cigarros acesos em mim

Sufoco com seus anéis azuis

De fumaça.

Sinto-me destituido de minha liberdade

E da coragem de reave-la.

Sou admoestado pela minha insegurança

E sigo prostrado atado

Aos nós das dúvidas.

O ônus por ter perdido a autonomia

Da solidão auto-imposta;

O jugo da autocomiseração

Disfarçada em felicidade.

Como a ruína de uma Laranja Mecânica.

Aproveito a escuridão da falta de energia

Com portas e janelas trancadas

Às quatro da manhã

Com galos cantando

Coberto até o pescoço por cinco lençóis

Perdendo-me cada vez mais no breu

De minhas entranhas

Que latejam de saudade

e dor

Do que um dia fomos

No Outono-Inverno

Da véspera do fim

Do mundo.

20/11/2011 - 00h30

Placebo - Sleeping With Ghosts

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 20/11/2011
Código do texto: T3346499
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.