Mexericos de Papel

Há três horas estou aqui

esperando a inspiração,

com o papel à minha frente

e a caneta na mão.

 

De repente ouço a caneta

falando com o papel,

que a inspiração que eu espero

já foi pro beleléu.

 

O papel ri da caneta

e ela dele também,

e juntos riem de mim

porque a inspiração não vem.

 

E os dois mexericando

ali em minha frente,

dizem que não consigo

porque é vazia minha mente.

 

Perco a paciência de vez

ao ouvi-los dizer assim,

e meu primeiro impulso

é de dar neles um fim.

 

Pego a caneta bem firme

e a aperto entre os dedos,

enquanto o papel me olha

branco de tanto medo.

 

Nesse momento os dois

começam uma gritaria,

e entre seus gritos vejo

nascer a minha poesia.

 

* * * * *

 

Do livro “Entre Poemas” – Pág. 54 – Irene Coimbra