O meu violão

O meu violão tem um som

redondo e aberto

como a baía da Guanabara

as notas vão se encostando

feito os barcos na Marina da Glória

duplicados no espelho d'água

é por isso que aprendi a tocar

devagar e leve, com as pontas dos dedos

e a cantar assim, com a ponta da língua

(e a amar assim, com uma ponta de cautela)

dedilhando cada corda

para que cada nota

estale limpa e solitária

como um peixe espelhado

disparando do turbilhão

que rodopia furioso

no fundo do mar.