sem razão pra falar de flores
não...
não posso falar de flores
não tenho nenhuma razão
não consigo esquecer as dores
que vivem presas no coração
não...
não domino o meu destino
nem tenho apreço
ao sofrimento
já faz tempo
amei uma certa mulher
que entrou na minha vida
simplesmente
como entra uma qualquer
veio em silencio
aquela sorrateira
enfim
como quem não queria nada
fingiu que gostava de mim
me invadiu a madrugada
tomou o meu lado da cama
me tirou do meu sono
esperta
vestiu só a parte de cima do pijama
se enfiou embaixo das minhas cobertas
passei noites inteiras
amando a tal fulana
dias e noites
noites e dias
todos os fins de semana
muitas garrafas de vinhos
comidinhas e doces
muitos beijos e carinhos
foi tudo o que ela me trouxe
mas não era o bastante
nem tudo o que é bom
satisfaz
eu adorava ser seu amante
mas nunca consegui sequer
ter um minuto de paz
amando assim essa mulher
acabei doando a minha alma
acabei me causando um desastre
aquela dona
aquele traste
de repente no meio de tudo
me abandona
me deixando a deriva
olhando os navios
num mar de saudade sem fim
hoje eu navego só
a procura de um porto
de um corpo
de um cais
de um outro peito
de um outro abraço
mas tanto fez
tanto faz
agora vou com bastante calma
sem entregar minha vida
sem doar outra vez
minha alma
nunca mais