Uns versos crus; outros, banais...
O amor – pedra tosca que muito reluz –
arde como açúcar (oh, brutos cristais!)
em olhos castanhos, celestes azuis,
em negros profundos, verdes invernais...
Estranho a si mesmo o amor não faz jus
a nada ou ninguém. Como ternos bonsais
sombra não nos dá, raros frutos produz,
sem raiz, nos encanta por galhos demais...
Amor tem sabor de balas de alcaçuz
misturado ao fel de inúteis esponsais;
bem sabe ao azedo de tenros umbus
indo cedo ao chão – madureza, jamais!
E parece um barco feito de bambus...
ao largo e amarrado, e por processos tais,
sendo de pau oco a correntes se induz,
roda, regateia e não volta ao cais.
Se, sempre, ao sofrer o amor nos conduz,
por que intentamos prazer tão fugaz?
Por que nos deixamos pregar em tal cruz?
(Mais vida, não há: somos meros mortais.)
Inda que vistamos, da razão, o capuz,
e até gritemos “Amor, nunca mais!”;
ou a voz mudemos, feito sanhaçus,
e nos afastemos em gestos teatrais;
mesmo que purguemos, da ferida, pus,
e nos convençamos: “São chagas carnais...”,
e o corpo fechemos; e com os olhos nus
choremos; vertamos lágrimas termais,
queremos: buscamos a dor que seduz,
que nos arremete a penas capitais;
ardor que não cede, sequer, com mastruz;
jardim sem odor, com flores infernais!
Amor – em penumbra ou vácuo ou luz –
brilha intensamente e adoça nossos ais.