ESTÔMAGO

Alimento-me das palavras
que descubro no dia-a-dia,
palavras de luto e dor,
palavras de alegria.

Alimento-me de todas,
de novas e de antigas,
palavras que são amargas,
palavras ainda amigas.

Descubro-me nas palavras
que digo insistentemente.
Nas que não digo estão
os horrores de minha mente.

Meus pesadelos e traumas,
minhas festas e bobagens,
nas palavras é que estão
a bagagem das viagens
que faço ao redor do mundo
e revelam o meu eu profundo.

Alimento-me de palavras:
o dicionário
é um prato feito.
Não sonho com dias cinzas,
nem com o dia de sol perfeito.

Sonho com as palavras
e as imagens que delas vêm.
Palavras me fazem mal,
mas também são o sumo bem.