Procuro (Epopéia do Amor)
Olhe em meus olhos
Vê os meus fios de cabelo quebradiços
Sinta meus ossos cansados
Vê meus lábios secos
As raízes da pele exigindo a seiva
Olhe este feto crescido
Me sinta
Seja cúmplice:
Percorri todos os caminhos:
Varei dias no mar indo a Tróia
e noites seguindo todos os passos de Ulisses
Testemunhei o rapto de Helena
Inventei o cavalo de Tróia
mas ao fim do massacre
Tornei-me um troiano
A ti...
Vi o principio e o fim da Grécia
ora Heleno ora bárbaro
Discordei de todos filósofos ,amei-os
e bebi o veneno do velho pensador
Fui o oráculo sóbrio
E senti a angústia das tragédias.
Pensando em seu gosto....
Vasculhei os pântanos da idade media
...as florestas da Europa
Fugi da peste e exilado
vivi a te procurar num Feudo:
Prestei serviço a meu senhor
perdoando a divida de meu vassalo.
Estudei a alquimia
Tornei-me um mago sonhador
para transformar nosso céu em Ouro
e dar flores de Prata a sua existência.
Briguei com o tempo
Com Deus e anjos
Com céu e inferno
Acompanhei Dante nas tormentas do inferno
E peregrinei a resplandecência divina
Mas não te vi...
Então...
Percorri mil vezes todos os caminhos das cruzadas:
Invadi castelos insaciavelmente
Com sal e pão em meu corpo
...e a febril doença do querer
No entanto,na mesma época:
Seguindo suas manchas de batom
Fui acusado
E tive de fugir da inquisição
Andando,....Tentando achar seus passos
Fugi dos animais
Te amei, acalentei e questionei
Vivi todas as fases da evolução humana:
Do mais rústico primata ao mais acabado homo sapiens
Para enfim poder te amar: Vênus
Percorri os campos gelados de uma Rússia stalinista
E vi camponeses a míngua
Morrendo de fome e frio e solidão
Mas continuei com meus pés congelados até o fim da estrada
E em delírios toquei a pele do ditador pensando ser sua.
Depois de tempos,
fui Judeu nos campos de concentração
Testemunhando o holocausto.
Negociei com nazistas
Ajudei Jesus em sua peregrinação
Ensinei-lhe algumas palavras
Para ganhar nos anos seguintes sua lição de amor e
Futuramente te dar
Batizei-o......... fui batizado
Chorei abaixo de sua cruz
E amei o diabo
Jejuei com Ghandi
Segui-o por entre os campos de arroz
Numa eterna meditação pacífica
Colhendo alguns grãos para ti
Mas antes:
Não ao acaso....
Discuti com Buda;
(pois te desejava)
retirei-o da meditação,
E mostrei-lhe o amor como fim e o princípio.
Atravessei todos os mares para te ver
Inventei submarinos e construí barcos
Embarquei em navios negreiros
Passei fome....quase morri na epidemia febril do porão
Para no fim levantar o estandarte da sobrevivência da raça
E da lembrança de seus pés de brim
Fui preso na ditadura
Via sua imagem pintada entre as grades da cela
...a lua materna e serena
E num vestido cor de sangue (vermelho, carmesim)
Ao me torturarem
Subi montanhas
Sufoquei-me no Himalaia
Morei em vales e valas (junto com guerrilhas perdidas no tempo sempiterno de uma saudade)
Andei por caminhos teus
Falei as línguas desconhecidas
Foi onde parei no meio do turbilhão do continente em uma corte
Andando aos pés de Luis XVI
Esmolando algum vil trocado para continuar minha trajetória
Mas quando o caos se instalou
Preparei a declaração dos direitos do homem
Para que seus dedos continuassem intactos a brutalidade humana
E te protegendo em direitos e saudades rezei:
“Abençoada seja sua pele
Tornozelo
Cabelo
Sangue
Seus dias e noites
Sua boca de único gosto
Seus olhos procurando a primeira imagem
Sua verdade assombrada pelo mundo.”
Cambaleando hesitei de medo
Mas meus passos permaneceram fiéis:
e de pedra em pedra construí Machu Picchu
a beira de abismos astrológicos e místicos
Uma civilização inteira eterna histórica
de presente ao seu infindo aniversario.
Eu um índio pequeno digno de Tupã
Conhecedor de ervas e caça
Lutando insistentemente pelo teu território natural
Pela sua casa e as e as folhas que te acalmariam.
Ao passar do tempo
Depois de tanto fugir e buscar
Freqüentei as noites frias de São Paulo
Usei todas as drogas para sentir tua presença em delírios
Dançando e rindo e florescente.
Tocando sua mão suada nos meus lábios infectados.
Me perdi nos tempos e noites
Me machuquei em moitas
Me cortei em sonhos
Aprendi a amar a dor
A não me perder nos labirintos sem sentidos do para sempre.
A não me afogar nos mares turvos, combater ondas
A não sentir frio no Alasca
E sair ileso das lavas de um vulcão.
E por fim... a não me preocupar
Com essa duvida de antes do antes do Big-bang.
Olhe em meus olhos
Vê os meus fios de cabelo quebradiços
Sinta meus ossos cansados
Vê meus lábios secos
Eu abro a boca:
Estou nu é você vê meu íntimo
vim aqui te mostrar minha história, cantar minhas chagas
Vim te amamentar
vesti mil mascaras e vidas
meus pés doem!
Vim Acolher sua existência
Digas agora:
“Me achas um cadáver?”