Da Ausência Animal da Poesia
Égua insone e fantasmagórica que sobre a ausência da palavra cavalga. Sem garbo, seu pisar estranha a textura de vocábulos desconexos, sons desacordes. Onde, a maciez e a umidade do consistente verso ? Pobre fêmea estraviada da sinestésica mata onde percepções deslizam no ar em desvario aguçando-lhe o focinho. Seu cio perdeu-se na agrura seca do intransmutável. Melancólica égua cismando Pégasos no céu.
Áridos diálogos no desgosto da rotina, agarram-se como carrapatos em sua crina. Faminta, seu dorso desce manso até o chão buscando, quem sabe, o sortilégio de uma erva que cale a sofreguidão de tantos hiatos. Consternação de ter perdido o pasto, onde livre e vasto, é seu corpo etéreo. Corpo que carrega suaves cargas transcendidas. Agora, em suas costas pesa um fardo - enfado da prosa ignomínia. Magnetismo animal coberto de arreios que antes, sabia dos meios, exalando cheiros em ênfases sensuais. Que macho irá cobri-la ? Para onde ir ? Aéreas patas afligidas no concreto. Como voltar ? Qual o caminho para o único espaço que não se deixa adestrar ?