À cidade de São Paulo

Geometria confusa

A mulher de um cordel dentro do ônibus

sua e ri, tentando desentender a cidade:

“Que calô!”

Meu olho não fixou uma cor

muitas

dos prédios

perdidos, muitos e monótonos.

Um cinza e , por cima,

letras piXadas

um neon proibido

no emaranhado de carros

que dançam no suflê de asfalto.

A mulher sua nos seus bigodes

e comenta do cachorro que

ficou preso em casa:

“Que dó!”

Que dó de nós cachorros

que corremos pra cima e pra baixo

à procura de abrigos e janelas

nesta caixa de concreto.

O ônibus passa

o mendigo fica olhando

com suas caixas de feira,

com seu guarda-roupa na calçada.

E eu dou o sinal e desço;

no Ponto

para viver tudo de novo:

Sai numa Segunda e

cheguei num Domingo

(em duas horas!)

Pois aqui o tempo

é o tempo do trabalho.

Nas praças ninguém trabalha

também ninguém fica

Só um senhor

que vive no interior

de seu bairro

ou lê a fumaça dos escapamentos

como se fosse um presságio:

“Hoje é dia de jogar Dominó”

“Hoje é dia de ir à padaria!”

Mas sempre é dia de ir à padaria

Até de madrugada

quando os que trabalham

acordam pra ver a lua nascer

quando os que trabalham

acordam pra ver o Sol nascer e

se acotovelar nos trens

sorrindo.

Pois a piada é o descanso merecido

durante o trabalho

de viver

de migar.

Mas a cidade é muita

de muitas

Os fios são muitos

e dançam sobre minha cabeça

até a linha do horizonte

e os postes disputam a calçada com quem passa

na guerra de guarda-chuvas

em baixo da garoa

E eu novamente: dou o sinal desço

no Ponto

Preciso

e na retina impressa tudo isso de novo:

a rotina.

Denis Acorinte
Enviado por Denis Acorinte em 12/11/2011
Reeditado em 15/07/2013
Código do texto: T3331841
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