Intemporal
Quando o humano for mais etério,
nessa natureza paradoxal,
onde tudo é criado
para não durar,
talvez nos sobre
uma delicadeza na alma
que transpareça nas nossas
atitudes e palavras,
sem muito mistério.
Talvez, só talvez,
a chuva chegue à vidraça
dos nossos sentidos
e nos faça sorrir,
e o sol brilhe,
cheio de graça,
em nosso olhar,
e as flores, que
nos acompanham
em nosso caminho,
possamos finalmente,
observar.
Talvez, só talvez,
a Vida recomece
em nós mesmos,
não numa conta bancária,
num sonho de consumo
ou na aparência temporal.
Talvez, só talvez
e dessa vez,
entendamos tudo
o que faz sentido,
o que não perece,
pois o tempo,
que nos desvia
de uma vida plena,
talvez, só talvez
e dessa vez,
morra estirado
sobre a relva
que nos esquecemos
de tocar,
e transcenda, na avidez
da existência,
o perene, o Intemporal
no maior ato de amor,
na condição maior: amar.