O POETA E O MAR
“...meu coração é um pórtico partido dando excessivamente sobre o mar.” – Fernando Pessoa
Aldrava gigantesca da porta do mundo
É o mar que se ergue
Como uma cidade de vidro e aço
A se expandir noite adentro
Até o topo do céu.
E há países sem mar
Cidades amputadas sem portos
Homens desvairados e sós
Mil olhos sem rostos
Crianças desguarnecidas e poucas
Meninas abortivas
Mulheres loucas
Poetas sem poesia.
O mar é o sangue e a célula do poeta
E contempla o mar o poeta desenganado
(mordisca na solidão uma luz na noite do mar).
Poema do livro Navios Abstratos (Fortaleza, 1987)