NAVIOS ABSTRATOS
“O meu amar-te é uma catedral de silêncios eleitos” – Fernando Pessoa
Anda equidistante meu pensamento
D’álgum lugar , longe das coisas, no último silêncio
De alguém que não sei onde está
Que nem me lembro
E a hora surda e opaca pousa em mim duma vez
Mas estou longe daqui e semi-morto
Vejo navios abstratos
Pontos indefesos no porto
E a hora surda e opaca pousa em mim outra vez
Ondula n’alma uma saudade absurda
E aqui distante relembro só e absorto
Vejo navios abstratos
Monumentos inacabados no porto.
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Poema do livreto em xerox Navios Abstratos (Fortaleza, 1988)
No ano de 1988, fiz um projeto de um livreto que seria impresso por meio de fotocópias xerox, escrito à mão em papel ofício (sulfite), pois naquela época eu não tinha recursos financeiros para publicar um livro em uma gráfica convencional
O livreto "xerocado" Navios Abstratos não passou de um anônimo "projeto de poesia marginal", como era conhecido esse tipo de publicação entre a década de 70 e 80.
Era muito comum alguns poetas manufaturarem seus escritos em fotocopiadoras ou mesmo por meio do "stencil" e duplicados com o mimeógrafo. As poesias eram distribuídas em livretos artesanais xerocados, mimeografados e grampeados, ou simplesmente dobrados.
Esse movimento cultural conhecido como "Poesia Marginal" foi marcante para toda uma geração que buscou, por meio da literatura, alguma forma de atuação cultural fora dos padrões oficiais da academia e da crítica literária.