Despida
Não consigo deitar em minha rede
Cochilar e pensar no futuro
Ouço o povo reclamando com sede
E o barro que era úmido
Agora está rachado e duro.
A comida que havia na mesa
Era exuberante com fartura
Hoje já é dosada com calma e frieza
Requentada e refeita na fritura.
O trem caminha para o fim
Nem sonhar se pode mais
A indignação tomou conta de mim
Exportaram meus cereais.
Minha água potável diminuiu
Nem alcança o nível da caixa
De dia ela não veio
O restante,
Durante a noite simplesmente sumiu
Não sei se está em baixa
Ou foi a alta da taxa.
O lençol está cada vez distante
E a água não está tão doce
Já não há pressão no hidrante
Como antes fosse.
Procuro a cachoeira no paredão
Onde eu banhava com as meninas
Assediado e feliz
Aquela cascata era um turbilhão
Lembro até dos piqueniques que fiz.
Agora só a saudade me apavora
Lembranças ah! Quantas lembranças
Da grota de pedras com lodo
Do rebojo dançarino na dança
Que envolvia teu íntimo como um todo.
E agora nada mais me resta
Apenas barrancos vazios,
Pedras descoloridas,
Nem as matas onde se fazia festa
Hoje estão sem as vestes
Despida.
Francisco Assis Silva é Bombeiro Militar
Email: assislike@hotmai.com