VAZIO
Sem amigos, paixões, desafios,
Recolho-me ao meu espaço,
Onde livros, sonhos e rancores
Fazem par
Ao embalo sedutor das cortinas na janela.
Sem vitórias, amores e saudade,
Sou Senhor dos meus dias,
Escravo de meus demônios,
Criador de minhas mazelas.
Escrevo sob a chuva,
Sentindo um açoite em cada gota
Que se mistura às lágrimas
Do que outrora fora um Homem.
O frio não impede que minhas trêmulas
Mãos
Lamentem meu infortúnio.
Nas borras da tinta,
Contemplo a figura disforme
Que se tornou minha vida.
O uivo do vento traz notícias
De ontem.
Não há esperanças para o Amanhã.
Enquanto a negra lama que cobre meus
Pés descalços,
Molda minha vida.
Não espero compreensão,
Não desejo o sol com sua terrificante Ilusão
De amor e paz.
Corvos...Negros! Impávidos! Onipresentes!
Onde quer que eu vá...eles estão lá!