TRAVA-TEMPO NO PENSAMENTO 


(para Carlos R. Stopa e seu "Antinomias do Tempo: a Cadeira e a Estrada" )



Diz o ditado que tudo com tempo tem tempo!
Mesmo assim o homem pergunta ao tempo
Quanto tempo o tempo tem...

O tempo então lhe responde
Que o tempo tem tanto tempo
Quanto tempo há nos átimos... 

Roga-lhe ele, zonzo, que haja tempo mais largo...
Querendo por querer, só por insegurança,
Sem saber quanto mais tempo isso, em tese, dar-lhe-á!

Onde ele quer chegar?
Correndo para que e por quê?
Por quem, pra quem?

Ventania de contínuo!


A paisagem passa em velocidade alterada.
Ele nada aprecia da viagem.
Não sente o ritmo da existência.

O homem e sua sina
Seguem pra cidade ou capina, estrada afora,
Sem firmarem com o tempo uma aliança... 

Há uma cadeira vazia, largada no acostamento da via...
Ela olha os passantes e os andarilhos, 
Sábia mas ressabiada.

Convite para que alguém nela se assente,
Converse sobre o passar das horas, dos dias,
Sobre a mudança dos espaços?

Seria o tempo uma cadeira ao sol,
Vazia, cotidianamente vazia, à beira da Estrada,
A Estrada do Nada ao Nada? 


 
[ "O tempo é a minha matéria,
   o tempo presente,
   os homens presentes,
   a vida presente."  ]
C.Drummond de Andrade

 



foto-montagem de um original de Jure-Zlatko Vujevic
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 30/12/2006
Reeditado em 29/10/2013
Código do texto: T332037
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