A DAMA DA RETORTA 



 

Depressão bateu em casa.
Entrou, fixou morada.
Era visita inconveniente,
Nunca fora convidada.

Pensei que partisse rápido.
Mas o tempo de cada uma,
Pálido e  adoentado,
É incerto e diferente:
Eu penso que é muito,
Ela pensa que é pouco,
E de bocado em bocado
Sai esticando a estada. 
  
Não gosto dela. 
Não temos sintonia.
Mas Dona Depressão, parece, 
Ama minha companhia! 

Busquei despachá-la em surdina
Valendo-me de antiga simpatia:
A vassoura atrás da porta.
Nada feito.
Queimei alecrim com alho
Para afastar essa tristeza de borralho.
Decerto estava errada, fez-se torta
A receita de mandinga e alquimia:
A Dama da Retorta
Sempre aborta sua ida.
 
Arriscado jogo de dados
Sobre feltro verde e invisível,
Contabilizam-se os pontos
De Morte e de Vida.
Queda de braço
Enquanto mantém-se
Inusitado laço. 
 
O resultado decidirá a saída...

Quem largará a máscara primeiro?
Quem sobreviverá por derradeiro?
Quem estará de partida? 



[24/02/2006]

  


 pintura de Gustav Klimt, "Hygeia"  (deusa grega da Medicina)
KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 05/11/2011
Reeditado em 08/02/2015
Código do texto: T3318232
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