poemas soltos
I
perde-se a noite
na multidão dos poros
perde-se a lua
na escuridão da mata
perde-se a folha parda
na rosa-dos-ventos
só não se perde o tempo
no verso em movimento
II
Na desbotada parede da sala
a antiga moldura
ornamenta o passado
daquele retrato preto-branco,
o invisível quase-sorriso de menino
sopra um “flash” na minha direção.
Súbito, susto!
Caio estatelada no chão presente
feito fruta madura
de um galho seco
recém morto...
daqui em diante
não enxergo mais nada.
III
procurei as chaves...
entre os escombros,
olhei debaixo da escada,
e nos vãos da parede-meia do galpão,
cavuquei as tábuas do chão de teto,
e nos índices por onde passa a vida,
talvez as chaves caíram no precipício...
quando avistei o crepúsculo no mar
e a nuvem grávida
parir na estrada
brotos que vingariam auroras.