poemas soltos

I

perde-se a noite

na multidão dos poros

perde-se a lua

na escuridão da mata

perde-se a folha parda

na rosa-dos-ventos

só não se perde o tempo

no verso em movimento

II

Na desbotada parede da sala

a antiga moldura

ornamenta o passado

daquele retrato preto-branco,

o invisível quase-sorriso de menino

sopra um “flash” na minha direção.

Súbito, susto!

Caio estatelada no chão presente

feito fruta madura

de um galho seco

recém morto...

daqui em diante

não enxergo mais nada.

III

procurei as chaves...

entre os escombros,

olhei debaixo da escada,

e nos vãos da parede-meia do galpão,

cavuquei as tábuas do chão de teto,

e nos índices por onde passa a vida,

talvez as chaves caíram no precipício...

quando avistei o crepúsculo no mar

e a nuvem grávida

parir na estrada

brotos que vingariam auroras.

Alessandra Espínola
Enviado por Alessandra Espínola em 30/12/2006
Reeditado em 30/12/2006
Código do texto: T331717