POEMA E POETA VAZIO
Gostaria de transcender a tua linguagem
Para dedicar-lhe um poema metafísico
Mesmo ante nossas diferenças diatópicas
Subvertendo nossas variações diastráticas
Para compreender tua venturosa semântica
Mas não tenho tua capacidade de concisão
E por isso não consigo penetrar o teu léxico
Nem mesmo fazer uso da rotunda perífrase
Para assim descrever teu translúcido texto
E não deixar acontecer fatores monogênicos
Ante a esse ente poligenista canibalesco
Mas não me livro dessa minha prolixidade
Ao tempo que me perco em tuas metonímicas
Em minha inabilidade ante teu infindo contexto
Tento me inteirar dessa confusa metalinguagem
Para abarcar tua maravilhosa corporeidade
Mas me perco em ti por mim inevitavelmente
Na força exponencial desse nosso aforismo
Então de tua gramática nunca serei saciado
Pois minha ignorância dialética é abundante
E ante tua magnânima escrita não transmudou
O que faz de mim um poeta analfabeto funcional