Poema a Drummond
a Drummond
o homem mina
sem picareta ou bateia
mina com ideias
colhe com rimas:
uma pedra bruta
dobra’o ser como sereia
ressecando, areia
vive toda múltipla:
Toda maquinário
assassina que não engrena
e só foge, só fica,
assassina-testemunha:
Quem culpa’a pedra?
O mineiro que menta
que distingue rosa no escuro
a rosa de aluvião.
Quem pôs a pedra em seu lugar?
O poeta que mina
e bate com sílaba
e funde com pranto.
O triste homem, mineiro,
põe a pedra e a contempla,
põe a pedra e a contempla,
com estupor irritante.
Uma pepita sem valor
máquina emperrada
que não abre, que não funciona.
Mói o trigo com toda harmonia
serve a palha
em cumbucas
dedilham larvas.
Põe pedra e retira vida. Põe vida e retira pedra. Respira. Põe pedra e retira pedra. Às vezes sai vida, às vezes sai nada, sempre sai pedra.
São Paulo de Piratininga, 3 de outubro de 2011 ou 457