O gasto da vida

Fomos perdulários com a vida.
Gastamo-lhe em excesso.
E já não há retrocesso.
Muito mais uma explosão, que um processo.

Na segunda idade, dizem os eruditos,
será o tempo de aproveitar o que se fez.
E, no entanto, tudo já foi feito.
É só um mero dejá vu. Um texto já escrito.

O resto da flama chegará à terceira idade?
E dela haverá necessidade?
Tudo já se ouviu, tudo já se viu. Terá utilidade?

Contudo, no balanço final encontram-se letras em azul.
Tantos azuis. Igual, Bandeira, ao sorriso azul de Isabel. 
Ainda vivemos certos jardins, certas montanhas. Certo pedaço de céu.