= AS MÃOS DOS OPERÁRIOS =
AS MÃOS DOS OPERÁRIOS
( 1968 )
(da peça teatral - Para Cada Coração uma Rosa de Ronaldo T. Lima)
As mãos dos operários
são sempre tão iguais,
não servem pros banquetes,
pra orgia dos cristais.
As mãos dos operários
têm poucas variantes,
escassos repertórios,
escassos concertantes.
É só continuidade
de um mesmo movimento,
mãos rudes e calosas
dadas ao sofrimento.
Mãos repletas de graxas,
sem tempo pra rezar,
não mudam de compasso,
feitas à trabalhar.
Mãos flores dos braços,
bálsamo da ternura,
o feche dos abraços,
o toque da candura.
Mãos calosas e duras,
feitas pra obediência,
seguem firmes, seguras
em sua competência.
Tais rotinas, executam
ritmo mais constante ,
são por demais precisas,
sempre invariantes.
Se variar pudessem
de tais continuidades,
de forma que quisessem
se impor na sociedade.
Se variar tentassem
nova coreografia,
de tal modo, de forma
da noite virar dia.
Se variar acordassem
do longo enorme sono,
a ponto que preenchessem
todos os abandonos.
Variar, variassem
vôos de liberdade,
certamente haveria
opção e verdades.
Nesse todo difícil
- onde o riso é a cilada -
a lua apaga o dia,
solta a noite calada.
Nesse todo difícil
- aberto a sonhos poucos -
a noite explode estrelas
em mil cochichos roucos .
Assim, como quem parte
do sonho ao desassombro,
a ponto de agüentar
o universo com o ombro.
De ser forte, humilde,
a cósmica alavanca,
que faz partir a porta
da mais pesada tranca.
Do sonho a realidade,
mãos prontas para a dança,
a tal continuidade
que petrifica e cansa,
há de se erguer em punho
enorme grito rouco,
cujo o eco é o futuro,
concreto sonho louco.
De repente, rompessem
tanta passividade,
certamente haveria
“inquietos” na cidade...!
( P A U S A )
Para evitar transtornos,
sonhos e melodias,
que fazem com que mãos
fiquem como utopias.
Para evitar transtornos
de novos movimentos,
capazes de acenar
vôos e pensamentos...
Patrão torna-se Deus
dos trovões, dos tormentos,
cria o fiel GERENTE
e com ele o REGULAMENTO !
Ronaldo Trigueiros Lima
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