Delírios

Nuvens plúmbeas em céu anil,

espumas a derrubar escunas

em maralto,

são os delírios celotípicos,

os responsáveis pelos furacões de verão

e vendavais de inverno

que destroem corações...

Um mero olhar pode ser interpretado

com a maior das confusões...

Uma atitude educada,

com a pior das convenções...

Enganos, lágrimas, acusações

e o sofrimento cruel

para quem estiver inocente,

num banco de réus,

mas a dor também existe

para quem destrói.

O dedo acusatório é implacável...

As acusações se sucedem:

"Ontem, você ria demais,"

hoje olha para gaviões

pensando que são pardais"

"Seu problema é não ter malícia,

mas eu tenho por nós dois!"

Não vê que esse fulano, essa sicrana

querem nos afastar"?

Ao ver o outro negar, sofrer,

em vão tentar se explicar,

o ciumento

tem então

laivos de arrependimento,

solicita perdão, diz

que nunca mais vai fazer

o ser amado sofrer...

E sofre por sua vez, bem mais,

porque seu imaginário

é mais rico que a floresta...

Como ela, sua imaginação

é perigosa,

pode ser escura

e muito misteriosa...

Lá no fundo do que delira

há uma criança sofrendo

com muitos registros de perda

e muitas decepções

na sua história de vida...

E porque a sua insegurança o exige,

ele todas as leis do bom senso transige

nos seus delírios infernais!

E arde na fogueira imensa

que ele próprio acendeu

ao crer que são todos iguais,

capazes de o trair!

Para a Paz conseguir,

é preciso sempre atrair

a necessária confiança...

Somente assim,

deixará de ser criança

e adulto poderá ser...

O ciúme é um monstro

que leva aos delírios fatais!

Somente a espada da auto-confiança

degolará esse invasor oportunista

para a Alegria então pousar,

vinda do Amor infinito

que nada teme

tudo compreende

pois a cura vem de amar

sem muito esperar em troca...

***