ADVÉRBIOS



Onde estavam ontem
Esses traços, como sulcos
Em terra seca
Que hoje se expõem?


E esses pedaços fracos
E alvos caídos sobre os ombros,
De onde vieram?
Aonde foram, a decisão, a coragem?


E o riso fácil? Onde está?
A bola de gude do olho
Está opaca.
Cadê o brilho?


Onde perdi meu espelho fiel,
Em que lugar deixei
Minha identidade,
Por onde andei?


Inadvertidamente
em um lugar onde parei
esqueci na bolsa a passagem de volta
ao lugar onde nasci.


* * * *


Um dia nos transformamos em um livro de perguntas, sem brochura e sem respostas.

Como explicar, de que forma exemplificar, qual a maneira convincente de expor certas mudanças que não foram desejadas, pensadas, sequer discutidas? Acontece com todos, à primeira vista, ou ao primeiro sentir. Assombra, dá medo e vontade de fugir, enrolar-se nas cobertas, trancar o quarto, fechar o coração, imobilizar tudo o que se move. Ainda bem que a alma brada, grita: você tem um tesouro! Para que voltar? Não há retorno.

Agora você está no mundo da doação, da transferência, do despojamento. Conte como tudo aconteceu, deixe uma jóia a cada um que se aproxima. Você tem um saco vermelho de presentes abstratos, mas reais, que podem ser vistos em seu rosto, seus olhos, sua forma de se movimentar. Todos eles embalados com um papel de seda especial: sua experiência.





imagem: Valdemar