Ode à Ofélias
Minha cara Ofélia, esquecestes? "É para lembrança... Não esquece, meu amor!" A morte a ti, minha cara Ofélia, aquela, é azul. Azul, azul-sereia foi tua morte lamacenta. Leeenta... Só ela reconheceu-te por completo. Só a morte azul sabe que uma Ofélia são três. A imaculada Ofélia, levada pelas lamas do fundo do rio da indiferença inocente, grau de ignorância alcançado apenas pelos sábios príncipes retardados, heróis dos erros tragicômicos... Ah, apaixonada Ofélia, vítima das garras da correnteza do rio! O riamor, meu amor, minha cara Ofélia, te tragou para este leito lamacento. Aquele rio caudaloso tem duas correntes. A primeira leva à cachoeira do desespero solitário. A segunda, que dizem existir mas não encontram, leva a um lago de felicidade de profundidade abissal. Ah, minha cara Ofélia, o mundo tem tantos rios! Tua última e enlouquecida Ofélia foi um deles ao se tornar parte de um. E cada um tem seu curso. Hum...minha estimada Ofélia, não esqueça: respeite o curso dos rios, eles sabem onde escavam seus leitos. Não mude o curso dos rios à força, eles irão te odiar eternamente, mesmo que o curso melhore. Cada rio faz suas curvas quando quer, e o querer dos rios é algo, e todo algo precisa ser respeitado. Os rios correm, os rosmaninhos crescem, e tu, como as raposas, apenas espreita. Veja os rios das vidas, Ofélia, e viva o bem eterno de morrer! Morrer, dormir, talvez sonhar... e não esqueça meu amor, é para lembrança.
Dija Darkdija