EU CELEBRO a mim mesmo,
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.
Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade...
observando uma lâmina de grama do verão.
Casas e quartos se enchem de perfumes...
as estantes estão entulhadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também, mas não deixo.
A atmosfera não é nenhum perfume...
não tem gosto de destilação... é inodoro,
É pra minha boca apenas e pra sempre...
estou apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e pelado,
Louco pra que ela faça contato comigo.
A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros...
raiz de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração...
a batida do meu coração...
passagem de sangue e ar por meus pulmões,
o aroma das folhas verdes e das folhas secas,
da praia e das rochas marinhas de cores
escuras, e do feno na tulha,
O som das palavras bafejadas por minha voz...
palavras disparadas nos redemoinhos do vento,
Uns beijos de leve... alguns agarros... o afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores
enquanto oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas,
ou pelos campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar... apito do meio-dia...
a canção de mim mesmo se erguendo
da cama e cruzando com o sol.
(tradução de Geir Campos)
Texto original:
CELEBRATE myself;
And what I assume you shall assume;
For every atom belonging to me, as good belongs to you.
I loafe and invite my Soul;
I lean and loafe at my ease, observing a spear of summer grass.
Houses and rooms are full of perfumes — the
shelves are crowded with perfumes;
I breathe the fragrance myself, and know it and like it;
The distillation would intoxicate me also,
but I shall not let it.
The atmosphere is not a perfume — it has no taste
of the distillation — it is odorless;
It is for my mouth forever — I am in love with it;
I will go to the bank by the wood, and become
undisguised and naked;
I am mad for it to be in contact with me.
The smoke of my own breath;
Echoes, ripples, buzz’d whispers, love-root,
silk-thread, crotch and vine;
My respiration and inspiration, the beating of my
heart, the passing of blood and air through my lungs;
The sniff of green leaves and dry leaves, and of
the shore, and dark-color’d sea-rocks, and of hay
in the barn;
The sound of the belch’d words of my voice,
words loos’d to the eddies of the wind;
A few light kisses, a few embraces, a reaching
around of arms;
The play of shine and shade on the trees
as the supple boughs wag;
The delight alone, or in the rush of the streets,
or along the fields and hill-sides;
The feeling of health, the full-noon trill,
the song of me rising from bed and meeting the sun.
***
Whitman, Walt. Folhas de Relva. Seleção
e tradução de Geir Campos. Ilustrações de
Darcy Penteado. Ed. Civilização Brasileira.
Rio de Janeiro, 1964.
E o que eu assumo você vai assumir,
Pois cada átomo que pertence a mim pertence a você.
Vadio e convido minha alma,
Me deito e vadio à vontade...
observando uma lâmina de grama do verão.
Casas e quartos se enchem de perfumes...
as estantes estão entulhadas de perfumes,
Respiro o aroma eu mesmo, e gosto e o reconheço,
Sua destilação poderia me intoxicar também, mas não deixo.
A atmosfera não é nenhum perfume...
não tem gosto de destilação... é inodoro,
É pra minha boca apenas e pra sempre...
estou apaixonado por ela,
Vou até a margem junto à mata sem disfarces e pelado,
Louco pra que ela faça contato comigo.
A fumaça de minha própria respiração,
Ecos, ondulações, zunzuns e sussurros...
raiz de amaranto, fio de seda, forquilha e videira,
Minha respiração minha inspiração...
a batida do meu coração...
passagem de sangue e ar por meus pulmões,
o aroma das folhas verdes e das folhas secas,
da praia e das rochas marinhas de cores
escuras, e do feno na tulha,
O som das palavras bafejadas por minha voz...
palavras disparadas nos redemoinhos do vento,
Uns beijos de leve... alguns agarros... o afago dos braços,
Jogo de luz e sombra nas árvores
enquanto oscilam seus galhos sutis,
Delícia de estar só ou no agito das ruas,
ou pelos campos e encostas de colina,
Sensação de bem-estar... apito do meio-dia...
a canção de mim mesmo se erguendo
da cama e cruzando com o sol.
(tradução de Geir Campos)
Texto original:
CELEBRATE myself;
And what I assume you shall assume;
For every atom belonging to me, as good belongs to you.
I loafe and invite my Soul;
I lean and loafe at my ease, observing a spear of summer grass.
Houses and rooms are full of perfumes — the
shelves are crowded with perfumes;
I breathe the fragrance myself, and know it and like it;
The distillation would intoxicate me also,
but I shall not let it.
The atmosphere is not a perfume — it has no taste
of the distillation — it is odorless;
It is for my mouth forever — I am in love with it;
I will go to the bank by the wood, and become
undisguised and naked;
I am mad for it to be in contact with me.
The smoke of my own breath;
Echoes, ripples, buzz’d whispers, love-root,
silk-thread, crotch and vine;
My respiration and inspiration, the beating of my
heart, the passing of blood and air through my lungs;
The sniff of green leaves and dry leaves, and of
the shore, and dark-color’d sea-rocks, and of hay
in the barn;
The sound of the belch’d words of my voice,
words loos’d to the eddies of the wind;
A few light kisses, a few embraces, a reaching
around of arms;
The play of shine and shade on the trees
as the supple boughs wag;
The delight alone, or in the rush of the streets,
or along the fields and hill-sides;
The feeling of health, the full-noon trill,
the song of me rising from bed and meeting the sun.
***
Whitman, Walt. Folhas de Relva. Seleção
e tradução de Geir Campos. Ilustrações de
Darcy Penteado. Ed. Civilização Brasileira.
Rio de Janeiro, 1964.