Enxaqueca

Insistentemente ela não me deixa

desperta-me do meu comodismo

faz saltar da minha boca aquelas terríveis interjeições.

Incondicionalmente ela não me deixa

abala minha frágil estrutura

com um beijo frio e mórbido.

Traspassa minha lentidão cardíaca

assume o controle de minhas emoções

suspende-me e derrama-me ao leito

na frieza de um cômodo silencioso e escuro

abre-me as glândulas sudoríparas

e salta visivelmente pela minha retina.

No furor de uma inquieta madrugada

ela invariavelmente não me deixa.

No calor de um dia ensolarado

ela simplesmente não me deixa.

Em sua cruel e inevitável capacidade

de desfigurar o meu semblante

ela insiste em me fazer companhia.

Ela entontece-me, embriaga-me,

alucina-me e não me deixa.

Ela é apenas uma coisa da minha cabeça.

escrito em 30.10.2011

Kelly Andrade
Enviado por Kelly Andrade em 30/10/2011
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