O blablablá das ruas...  rodas de carros e o baque das botas e papos dos pedestres,  
O ônibus pesado, o cobrador de polegar interrogativo,

o tinir das ferraduras dos cavalos no chão de granito.
O carnaval de trenós, o retinir de piadas
berradas e guerras de bolas de neve;
Os gritos de urra aos preferidos do povo...
o tumulto da multidão furiosa,
O ruflar das cortinas da liteira —

dentro um doente a caminho do hospital,
O confronto de inimigos, súbito insulto, socos e quedas,
A multidão excitada — o policial e sua estrela
apressado forçando passagem até o centro da multidão;
As pedras impassíveis levando e devolvendo tantos ecos,
As almas se movendo... 


Será que são invisíveis enquanto o mínimo átomo
é visível?
Que gemidos de glutões ou famintos que esmorecem

e desmaiam de insolação ou de surtos,
Que gritos de grávidas pegas de surpresa,
correndo para casa para parir,
Que fala sepulta e viva vibra sempre aqui...
quantos uivos reprimidos pelo decoro,

Prisões de criminosos, truques, propostas indecentes,
consentimentos, rejeições de lábios convexos...


Estou atento a tudo e as suas ressonâncias...
estou sempre chegando.

 
                                                  
 (tradução de Geir Campos)


                                  &&&


        Whitman,  Walt.  Folhas de Relva.  Seleção 
          e tradução de Geir Campos.  Ilustrações de 
          Darcy Penteado.  Ed. Civilização Brasileira. 
          Rio de Janeiro, 1964.   



Walt Whitman (EUA)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 29/10/2011
Código do texto: T3305463