Toca de novo, ó corneteiro! e toma como tema
agora o tema que a todos encerra,
o que dissolve e o que firma, o amor -
que é o pulso de todos,
sustento e dor, o coração da mulher e do homem
feito para o amor:
tema nenhum além do amor - ajuntando, tecendo,
amor que tudo enlaça, une, irradia.
E como em torno a mim agrupam-se os fantasmas imortais!
Vejo o imenso alambique funcionando sempre,
vejo e conheço as chamas que dão calor ao mundo,
a incandescência, o abrasamento,
os palpitantes corações amando,
tão santamente felizes alguns,
e alguns tão silenciosos, sombrios, beirando a morte,
o amor que é o mundo todo para os amantes,
o amor que zomba de tempo e espaço,
amor que é dia e noite, o amor que é o sol
e as estrelas e a lua,
amor que é carmesin, suntuoso, que é doido
de perfume,
uma outra palavra que não seja uma palavra de amor,
nenhum outro pensamento senão de amor.
Faz de conta, ó corneteiro, que sou eu próprio
o instrumento que tocas,
fundes-me o cérebro, o coração - deslocas, puxas,
mudas à vontade;
e agora tuas notas ressentidas lançam a escuridão
dentro de mim,
recolhes tudo quanto é luz alegre, toda esperança,
vejo os escravizados, despojados, feridos,
oprimidos de toda a terra,
vejo a vergonha e a humilhação desmesurada
de minha raça,
passam a ser inteiramente minhas,
minhas também as vinganças da espécie humana,
os erros das idades, feudos e ódios frustrados,
pesa em mim a derrota decisiva - tudo perdido,
vencedor o inimigo.
(Embora em meio às ruínas o colossal Orgulho
erga-se inabalado até o firo,
resolução e resistência até o fim.)
(tradução de Geir Campos)
&&&
Whitman, Walt. Folhas de Relva. Seleção
e tradução de Geir Campos. Ilustrações de
Darcy Penteado. Ed. Civilização Brasileira.
Rio de Janeiro, 1964.
agora o tema que a todos encerra,
o que dissolve e o que firma, o amor -
que é o pulso de todos,
sustento e dor, o coração da mulher e do homem
feito para o amor:
tema nenhum além do amor - ajuntando, tecendo,
amor que tudo enlaça, une, irradia.
E como em torno a mim agrupam-se os fantasmas imortais!
Vejo o imenso alambique funcionando sempre,
vejo e conheço as chamas que dão calor ao mundo,
a incandescência, o abrasamento,
os palpitantes corações amando,
tão santamente felizes alguns,
e alguns tão silenciosos, sombrios, beirando a morte,
o amor que é o mundo todo para os amantes,
o amor que zomba de tempo e espaço,
amor que é dia e noite, o amor que é o sol
e as estrelas e a lua,
amor que é carmesin, suntuoso, que é doido
de perfume,
uma outra palavra que não seja uma palavra de amor,
nenhum outro pensamento senão de amor.
Faz de conta, ó corneteiro, que sou eu próprio
o instrumento que tocas,
fundes-me o cérebro, o coração - deslocas, puxas,
mudas à vontade;
e agora tuas notas ressentidas lançam a escuridão
dentro de mim,
recolhes tudo quanto é luz alegre, toda esperança,
vejo os escravizados, despojados, feridos,
oprimidos de toda a terra,
vejo a vergonha e a humilhação desmesurada
de minha raça,
passam a ser inteiramente minhas,
minhas também as vinganças da espécie humana,
os erros das idades, feudos e ódios frustrados,
pesa em mim a derrota decisiva - tudo perdido,
vencedor o inimigo.
(Embora em meio às ruínas o colossal Orgulho
erga-se inabalado até o firo,
resolução e resistência até o fim.)
(tradução de Geir Campos)
&&&
Whitman, Walt. Folhas de Relva. Seleção
e tradução de Geir Campos. Ilustrações de
Darcy Penteado. Ed. Civilização Brasileira.
Rio de Janeiro, 1964.