Imagináveis que não poderia haver
mais de um ser supremo?
Pode haver qualquer número de seres supremos –
um não exime outro tanto quanto um ponto de vista
não exime outro ou tampouco uma vida exime outra.
Tudo é elegível por todos,
tudo pelos indivíduos, tudo por ti:
nenhuma condição é proibida, a de Deus
nem qualquer outra.
Tudo vem pelo corpo: só a saúde vos põe em harmonia
com o universo.
Fazei grandes Pessoas, o resto vem depois.
Virtude e conformismo para os que gostam,
tranquilidade, obesidade, submissão
para os que gostam;
eu sou aquele que criticamente incita homens,
mulheres e nações, gritando:
- Saltai de vossos assentos e lutai por vós mesmos!
Beirando o Ontário escutei o Fantasma,
ouvi a voz levantar-se catando bardos,
para eles tudo natural e grande, por eles só podem
estes Estados fundir-se num compacto organismo
de Nação.
Ter homens reunidos com papel e estampilha
ou por obrigação, não conta,
pois só mantém homens reunidos
o que a todos congrega num princípio vital,
com a junção dos membros e do corpo
ou as fibras das plantas.
De todas as raças e épocas estes Estados,
com veias estuantes de substância poética,
precisam mais de poetas,
e hão de ter os maiores e hão de usá-los os maiores;
seus Presidentes não valerão para eles
como árbitro comum,
como os poetas deles hão de valer.
(Alma de amor e língua de fogo!
Visão que vá às mais fundas profundezas
e varra o mundo!
Ah Mãe, pródiga e plena de tudo mais, porém estéril
e estéril por quanto tempo?)
Eu sou aquele que vaga pelos Estados
com uma língua farpada
interrogando a todos que deparo:
Quem sois vós que desejáveis somente ouvir dizer
o que antes já sabíeis?
Quem sois vós que desejáveis somente um livro
a juntar à vossa insensatez?
(Com dores e gritos iguais aos teus,
ó genitora de muitas crianças,
estes clamores bárbaros oferto a uma raça de orgulho.)
Ó terras, quereis ser livres mais do que todas
já foram antes?
Se quiserdes ser livres mais do que todas
já foram antes, vinde escutar-me!
Temei a graça, a elegância, a civilidade, a delicadeza,
temei o doce meloso, o sorvo de mel de abelha;
cuidado com o amadurecimento gradativo e mortal
da Natureza,
cuidado com o que precede à queda da solidez
dos estados e dos homens.
As rimas e os rimadores passam,
passam poemas derivados de poemas,
os enxames de imitadores e polidos passam,
e deixam cinzas;
admiradores, importadores, pessoas subservientes,
formam apenas o chão da literatura;
justifica-se a América, dá tempo, nenhum disfarce
logra tapeá-la ou esconder-se dela, é bastante serena,
só em direção aos seus próprios iguais avança
para encontrar-se com eles.
Se seus poetas aparecerem ela no tempo devido
avançará ao encontro deles, não há receio ou equívoco.
(A prova de um poeta será inflexivelmente transferida
até que seu país o assimile com a mesma afeição
com que ele o assimilou.)
Ele domina os de espírito que domina,
é de bom gosto para aqueles que se tornam de bom gosto
no fim - o sangue dos musculosos bem amados
do tempo é incapaz de conter-se:
quando há falta de cantos, filosofia, uma ópera nativa
apropriada, artesanato ou arte,
ele ou ela será tanto maior quanto melhor
der na prática o exemplo original.
Já uma geração indiferente, silenciosa surgindo,
nas ruas aparece, a boca do povo saúda apenas
os que agem, os que amam, os que realizam,
os que sabem de forma positiva,
em breve já não haverá mais padres,
eu digo que a tarefa deles terminou,
a morte é sem emergências aqui, porém a vida é aqui
uma perpétua emergência.
São fabulosos vossos corpos, vossos dias e hábitos?
Fabulosos sereis depois da morte:
a justiça, a saúde, o amor próprio, abrem caminho
com poder irresistível.
Como ousais colocar uma coisa qualquer
diante de um homem?
(tradução de Geir Campos)
&&&
Whitman, Walt. Folhas de Relva. Seleção
e tradução de Geir Campos. Ilustrações de
Darcy Penteado. Ed. Civilização Brasileira.
Rio de Janeiro, 1964.
mais de um ser supremo?
Pode haver qualquer número de seres supremos –
um não exime outro tanto quanto um ponto de vista
não exime outro ou tampouco uma vida exime outra.
Tudo é elegível por todos,
tudo pelos indivíduos, tudo por ti:
nenhuma condição é proibida, a de Deus
nem qualquer outra.
Tudo vem pelo corpo: só a saúde vos põe em harmonia
com o universo.
Fazei grandes Pessoas, o resto vem depois.
Virtude e conformismo para os que gostam,
tranquilidade, obesidade, submissão
para os que gostam;
eu sou aquele que criticamente incita homens,
mulheres e nações, gritando:
- Saltai de vossos assentos e lutai por vós mesmos!
Beirando o Ontário escutei o Fantasma,
ouvi a voz levantar-se catando bardos,
para eles tudo natural e grande, por eles só podem
estes Estados fundir-se num compacto organismo
de Nação.
Ter homens reunidos com papel e estampilha
ou por obrigação, não conta,
pois só mantém homens reunidos
o que a todos congrega num princípio vital,
com a junção dos membros e do corpo
ou as fibras das plantas.
De todas as raças e épocas estes Estados,
com veias estuantes de substância poética,
precisam mais de poetas,
e hão de ter os maiores e hão de usá-los os maiores;
seus Presidentes não valerão para eles
como árbitro comum,
como os poetas deles hão de valer.
(Alma de amor e língua de fogo!
Visão que vá às mais fundas profundezas
e varra o mundo!
Ah Mãe, pródiga e plena de tudo mais, porém estéril
e estéril por quanto tempo?)
Eu sou aquele que vaga pelos Estados
com uma língua farpada
interrogando a todos que deparo:
Quem sois vós que desejáveis somente ouvir dizer
o que antes já sabíeis?
Quem sois vós que desejáveis somente um livro
a juntar à vossa insensatez?
(Com dores e gritos iguais aos teus,
ó genitora de muitas crianças,
estes clamores bárbaros oferto a uma raça de orgulho.)
Ó terras, quereis ser livres mais do que todas
já foram antes?
Se quiserdes ser livres mais do que todas
já foram antes, vinde escutar-me!
Temei a graça, a elegância, a civilidade, a delicadeza,
temei o doce meloso, o sorvo de mel de abelha;
cuidado com o amadurecimento gradativo e mortal
da Natureza,
cuidado com o que precede à queda da solidez
dos estados e dos homens.
As rimas e os rimadores passam,
passam poemas derivados de poemas,
os enxames de imitadores e polidos passam,
e deixam cinzas;
admiradores, importadores, pessoas subservientes,
formam apenas o chão da literatura;
justifica-se a América, dá tempo, nenhum disfarce
logra tapeá-la ou esconder-se dela, é bastante serena,
só em direção aos seus próprios iguais avança
para encontrar-se com eles.
Se seus poetas aparecerem ela no tempo devido
avançará ao encontro deles, não há receio ou equívoco.
(A prova de um poeta será inflexivelmente transferida
até que seu país o assimile com a mesma afeição
com que ele o assimilou.)
Ele domina os de espírito que domina,
é de bom gosto para aqueles que se tornam de bom gosto
no fim - o sangue dos musculosos bem amados
do tempo é incapaz de conter-se:
quando há falta de cantos, filosofia, uma ópera nativa
apropriada, artesanato ou arte,
ele ou ela será tanto maior quanto melhor
der na prática o exemplo original.
Já uma geração indiferente, silenciosa surgindo,
nas ruas aparece, a boca do povo saúda apenas
os que agem, os que amam, os que realizam,
os que sabem de forma positiva,
em breve já não haverá mais padres,
eu digo que a tarefa deles terminou,
a morte é sem emergências aqui, porém a vida é aqui
uma perpétua emergência.
São fabulosos vossos corpos, vossos dias e hábitos?
Fabulosos sereis depois da morte:
a justiça, a saúde, o amor próprio, abrem caminho
com poder irresistível.
Como ousais colocar uma coisa qualquer
diante de um homem?
(tradução de Geir Campos)
&&&
Whitman, Walt. Folhas de Relva. Seleção
e tradução de Geir Campos. Ilustrações de
Darcy Penteado. Ed. Civilização Brasileira.
Rio de Janeiro, 1964.