Agora eu conto
O que eu soube  no Texas
Em minha juventude
(não vou contar a tomada de Álamo,
não escapou ninguém para contar
a tomada  de Álamo,
aqueles cento e cinquenta estão mudos
ainda em Álamo):
esta é a história do assassinato
a sangue frio
de quatrocentos e vinte moços.
Em retirada tomaram formação
De um quadrado vazio
Com as bagagens como parapeitos,
Novecentos as vidas do inimigo
Que agora os sitiava,
Nove vezes o que tinham em número
E o preço foi cobrado adiantado,
O coronel deles fora ferido
E a munição havia terminado,
Negociaram capitulação com honra
Papel timbrado e assinado,
Entregaram as armas e marcharam
Prisioneiros de guerra.
Eram o orgulho da raça dos rangers,
Inigualáveis em montaria
Rifles, canções, repastos, galanteios,
Enormes, turbulentos, generosos,
Amáveis e orgulhosos,
Barbudos, peles tostadas de sol,
Trajados à moda descontraída
Dos caçadores,
Nenhum contava mais de trinta anos.
No segundo Domingo de manhã
Foram levantados em grupo
e massacrados:
era uma linda manhã de verão,
a faina começou aí pelas cinco e meia
e às oito estava tudo terminado.
Nenhum se quis sujeitar
À ordem de ajoelhar,
Alguns tentaram  inutilmente correr
Feito uns alucinados,
Alguns ficaram inabaláveis em pé,
Alguns poucos tombaram de uma vez
Com tiros  na fronte ou  no coração,
Os mutilados e desfigurados
ainda cavando o chão,
vivos e mortos estirados juntos
onde eram vistos pelos recém-vindos,
uns meio mortos tentavam sair de rastos
e eram então despachados a golpes de baionetas
ou esmagados a coronhas de espingardas,
um jovem com não mais que dezessete anos
agarrou-se ao algoz
até virem dois outros afrouxá-lo
e ficaram os três todos rasgados
e cobertos do sangue do rapaz.
Às onze em ponto
Começou a incineração dos corpos.
Eis aí a história do assassinato
Dos quatrocentos e vinte homens moços.
 
                          
                 (tradução de Geir Campos)
 
                                          
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          Whitman,  Walt.  Folhas de Relva.  Seleção 
          e tradução de Geir Campos.  Ilustrações de 
          Darcy Penteado.  Ed. Civilização Brasileira. 
          Rio de Janeiro, 1964.   



Walt Whitman (EUA)
Enviado por Helena Carolina de Souza em 28/10/2011
Código do texto: T3303883