MENSTRUAL

Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue.

Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.

[Mia Couto]

A quem perguntar

Donde me saem tantos versos,

Eu respondo:

Não construo versos, eu os menstruo,

menstruo-os como o sangue da Virgem,

vertido no coágulo duma ferida perene

que me consome a Alma,

Casulo de seda onde rebentam

Meus Eus,

Esta Borboleta que voa e revoa

Continuamente dentro de mim.

E assim eu menstruo versos,

Que me circulam nas trompas,

Versos que vão e que vem

Que vem e que vão...

E nesse ciclo menstrual de versos

Hei de sangrar poesia até a última gota,

Até o derradeiro ruflar de asas.

Alessa B
Enviado por Alessa B em 26/10/2011
Reeditado em 13/03/2020
Código do texto: T3299896
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