MENSTRUAL
Quando já não havia outra tinta no mundo o poeta usou do seu próprio sangue.
Não dispondo de papel, ele escreveu no próprio corpo.
[Mia Couto]
A quem perguntar
Donde me saem tantos versos,
Eu respondo:
Não construo versos, eu os menstruo,
menstruo-os como o sangue da Virgem,
vertido no coágulo duma ferida perene
que me consome a Alma,
Casulo de seda onde rebentam
Meus Eus,
Esta Borboleta que voa e revoa
Continuamente dentro de mim.
E assim eu menstruo versos,
Que me circulam nas trompas,
Versos que vão e que vem
Que vem e que vão...
E nesse ciclo menstrual de versos
Hei de sangrar poesia até a última gota,
Até o derradeiro ruflar de asas.