Um mar para eu ouvir
Um mar pra eu ouvir
Eu queria te dizer
que o vento na noite grande lá fora embala a folhagem que gira como bailarina
O ar caminha monótono cantando nostálgicas baladas de pressagos tempos
Caminham os astros no céu pintalgando o zimbório escuro
de olhinhos azuis e tiritantes e mansamente felizes
A noite passa intermitente trazendo algo que de mim que ainda não fui...
...vozes, vultos, velhas vidas, vulneráveis versos, vagidos...
Encobrem pensamentos, medos e sonhos de um tempo que não se vislumbra...
só em mim ficaram estas sombras, estes sons, que se confundem
com desejos pendidos e silentes, qual vultos ondulando na silhueta dos versos
A noite traz seus silêncios de fogueiras acesas em praias solitárias,
murmurando alegrias e rumor de brasas
Quem dera houvesse um mar pra eu ouvir...
com sua voz de contralto
com sua sede de areia
com seus cabelos de espuma
com suas águas acesas
Quem dera houvesse um mar pra eu mergulhar
neste mosaico incontido de água e de sal,
onde dormem as noites várias e seus segredos,
onde flutua o beijo rubro afogueando sonhos idílicos
Eu queria a adejante solidão do mar pra te dizer
que ainda hoje avistei-me com a inquieta saudade...
...sibilando incomunicáveis instantes de imarcescíveis mares onde teus olhos
se refletiam em azuis solitários e em lembranças furta-cor,
ecos de sentimentos submersos em constelações e precipícios
E, como um reflexo na água, meu coração indistinto só pensava em ti