Quase poética

A Arte da viajosidade é re-publicar aquele poema que você gostou e o mundo ignorou até que ele seja visto. rss

Quase poética

Ai musa, minha benção e maldição!

Como descrever-te? Como em afagos

delinear os teus cabelos? E essas poses e apelos?

Se ruivos, “estas madeixas bruxuleantes de fogo-vivo que aquecem minh’alma”?

Se loiros, “estes fios do mais puro ouro, dos campos de trigo fertilizados pela graça superior”?

Se negros, “aquele pedaço de noite que dança pelas ruas e faz com que me perca nos movimentos de seus passos”?

Ai, musa, descrever a inspiração é um problema ao escrever, eu olho.

E teus olhos…

Se escuros, “adentro a noite perdido em teu olhar, só nele encontro luz-guia única dessa sombra tumular”?

Se castanhos, “vi duas amêndoas. brotou em mim uma floresta dos mais lindos sonhos”?

Se verdes, “eram dois mares. em um deles, imenso, me afogaria. em outro, ainda mais imenso, com o maior prazer do mundo seria navegante sem rumo”?

Se azuis, “o céu estava no alto dos globos. o céu do primeiro mudava muito. o dos outros dois era sempre o mais límpido”

Não…nenhum destes te é suficiente. Mesmo que sejas todas estas, serás mais que todas sendo nenhuma. Esta é a pele que me encobre agora. E a tua, como seria por toque implorada?

“panos das mais alvas sedas nunca sentidas pelas mãos impuras dos mortais”?

“manto de doce chocolate, prova tátil do gosto do néctar olimpiano”?

“e haviam muitas outras descrições de indrescritível imprecisão precisa”?

Por todos os elementos sacrados, profanos, mundanos e extraterrenalmente transcendentais, quem és? Anjo ou Demônio? Benção ou Maldição? Os dois, os dois… as muitas…

Ora és chuva a expurgar-me os pecados,

inscritos com esta faca em forma de caneta na minha pele de papel.

Ora deusa, a abençoar os passos de um pobre mortal em breves ciclos

(em que o divino lembra-se de olhar como tropeça a sua criação sem sua ajuda).

Eu, transformado em em raposa, olhos de gato,

estou em minha toca, de onde aprecio todo este espetáculo caótico.

E eis que vejo uma imponente Leoa que me caça.

Contrariando seus princípios, me enterra para que eu seja sua última reserva.

Curiosa Leoa ou jovem loba? Eis uma das muitas questões…

Enterrado fiquei, voltei a sombra e pó. Este foi meu caixão por muitas eternidades.

Agora és névoa. Névoa que enevoa com toneladas de neblina uma bola de neve do passado, não deixa a visão trabalhar no presente, e com nada a frente, que fazer do futuro?

Rogo-te respostas, e a tua é “Inspire, inspire-se, inspire em si, adentre em mim e eu em ti serei eu, tu, e fim”.

Ainda estou tentando cortar a neblina com minha lâmina-pena.

Dija Darkdija

Dija Darkdija
Enviado por Dija Darkdija em 24/10/2011
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