Só a poesia diz quando é noite
Só a poesia se pode dar ao luxo
De fazer estripulia
De caminhar na corda bamba
De deslizar dos dedos as extremidades
No fio da navalha
De cremar-se na fornalha
De enfrentar barricadas
De rasgar as roupas
E ferir a própria carne
Só a poesia diz quando é noite
E quando começa o dia
Sustenta no ar os pássaros
E os aviões
Só a poesia desce a ladeira
Dentro dos caminhões
A poesia seca a talha e enche a cara
Dança sobre as ondas
Corta a linha do horizonte
Só a poesia tem coragem
E ressuscita a palavra
***