BÊBADA
Vou beber uma taça de vinho,
Caminhar descalça na grama.
Vou trocar meu lençol da cama,
Pensar em você bem de mansinho.
Vou receber o sol da manhã
Como uma ave de asas abertas,
Distribuir palavras doces e concretas
Na folha de papel sem frase vã;
Depois vou soltá-la sutil nos ares,
Vê-la transpor solenes patamares
Alcançando o céu azul de nós dois,
Deixando os doces suspiros pra depois.
Quero agonizar nas farsas que declamas
E ver o círio ardente em teu sexo que me inflama
Para ultimar nas curvas do infinito,
Resplandecendo como um raio de granizo
Nos arfantes contornos de minhas entranhas.
Esse vinho balança minhas veredas
E faz-me ver em teus olhos as estrelas...
Enquanto desfaleço debruçada na utopia
Lá fora um enorme mundaréu
Faz tempestade no céu
E minha alma bêbada rodopia.