Não diz

Não diz que gostas de mim...

não diz

Se não é assim,

não diz

Se gostas só dos versos que me sugeres,

de ilusão tecidos,

versos de amavio,

onde mal cabe meu coração

e com os quais eu me entretenho,

e deixo-me levar... folha ao vento

e busco te encantar... ternura tanta

Ingênuos versos de carinhos e de cuidados

Se gostas só dos versos que afloram, assim...

alegres ou tristes, imensos... descontentes

Não diz que gostas de mim...

não diz

Se não é assim...

Não diz

Põe nos versos que te mando, se te agrada,

algum sentido ou beleza, um traço de fantasia,

alguma essência vital ao soprares o véu das palavras

destes versos ilegíveis de aprendiz

Que não sabem calar, falam de tudo

Falam de amor sem sequer saber o que seria o amor

Seria o amor esta saudade de ti que ronda as minhas noites adejas?

Esta lembrança que abarca os dias que ardem, gota a gota?

Estes poemas que te trazem ao tremeluzir do sol poente?

Que me levam a ti em noites úmidas

de cantigas tão tristes como o pranto de um luar de agosto

E que em tudo e nada principia

Sem nem mesmo saber como te chamar

Se para mim és só um sonho

Amada, por que não, mas só um sonho,

somente um sonho meu no qual a distância

encobre o prestigioso amor que no meu coração perdura

Amor ingênuo como a criancice de te amar

Sonho das noites de cambiantes azuis, fosforescentes

Da estrela suspirando, pequenininha

Que em meu peito pulsa no templo ao teu nome

Querendo dizer-te amor, chamando-te menininha

Meu coração chama-te menininha

Por não saber te amar

Por ter fechado os meus olhos, meus olhos que já são teus,

a um plangente e solitário amor diáfano,

recanto empíreo onde tu habitas, angélica menina destes inscritos céus de setembro

Por ter fechado a chama do meu amor sob as folhas grises do outono

Longe o fragrante silêncio sustenta a primavera palpitante

E são teus olhos o prenúncio de flores azuis nas praias langorosas

Roçando o céu por onde caminham brisas e ternuras

Cintila humilde na noite marchetada de ocre o meu sonho de menino perdido

Que te ama...

Que te ama como a flor ama o orvalho

Como os meus lábios amam os segredos nos teus beijos

Te amo como estas alegrias purpúreas e intermináveis que nascem de ti

Te amo como ao lírio que nasce, nívea flor do misterioso rio que é te querer

Te amo como os meus sentidos amam a tua voz

(nas noites em que o tempo freme a cobiçada hora)

o tempo freme e passa e ri por enganar o meu desejo

A vida sedenta por mais um segundo,

sedenta do amor que está para além das horas fugazes

do tempo que foge com o meu amor...

Não sabes que te amo?

Sabes quanto te amo?

Te amo!

Não esqueces que te amo...

... "que eu te amo como criancinha..."

não esqueces

Não esqueces que fizestes da minha vida vã um mundo de encantos e espantos

Não esqueces que enchestes de canções meus inconsoláveis dias

Que esperei, por entre os tantos silêncios esparsos no ar, a harmonia do teu sorriso

Onde a alegria dos teus lábios guardou-te em beijo

Onde o crepúsculo nasce do flamejar adolescente dos teus abraços

E as noites têm o olor dos bosques orvalhados do teu corpo

Menininha,

és o demiurgo dos meus dias verdes, vejo-te na minha infância,

quando eu amava todos os amores dos quais eu ia morrer

És o gosto que diz ao passado - "Vem!

Gota de mel

Boca pequena (gostosa)

Longo beijo

Doce saliva

Perfume nu

Pêssego maduro

Recedendo poesia

Quanto ainda hei de te amar

para aprender em ti o veneno e a cura

em fagulhas incandescentes de ternura e ausência,

de vida e morte?

Por quantas eternidades meu coração há de te desejar para que sejas um amor pra eu morrer?

Pra eu morrer... gelo ardente,

pra eu morrer de paixão,

morrer, simplesmente morrer, de te amar

morrer completamente, sem outra intenção

Meu coração perpassou castelos ondulados de neblina

Cerziu tempos gastos de penumbra

E na delicadeza da lua que adormece sobre o mar de Fortaleza

Fica o meu pedido misturado ao Destino:

Não diz que gostas de mim...

não diz

Se não é assim, não diz...

Não diz

Não diz que gostas de mim!!!