NO FIM DA CURVA

Eliane F.C.Lima (Registrado no Escritório de Direitos Autorais - RJ)

Depois que eu morrer

vou andar pelas margens de um rio,

vagarosíssimo, quase lago,

esverdeado do mato em volta,

enormes árvores,

com trepadeiras torcidas,

que pendem até o chão.

Vou sentar ali,

meio frio,

uma névoa presa em tudo,

e adivinhar gotas,

movimento imperceptível,

que pulam das folhas,

fim da noite,

orvalho da madrugada,

um círculo no círculo maior

e outro maior e outro...

Olhar agudamente,

que uma morta não tem pressa.

Ver uma folha seca,

que navega,

tranquilamente, nesse rio,

vagarosíssimo.

Se desejar, descer o rio

sentada na folha,

que uma morta não tem peso.

E ver outros lagos,

que a correnteza encontra.

Pouca luz do sol,

teimosia do céu,

que as árvores,

imensas e abraçadas,

filtram, mesquinhamente:

uma cortina, tênue e esgarçada,

quer macular o rio,

acompanhada de uma flauta de anjo,

se anjo e flauta houver.

Mas, no verde e na paz,

só silêncio,

que uma morta não precisa de som.