= NOSSOS TEMPOS
... NOSSOS TEMPOS ( Tempos de Ditadura )
( 02.01.1969 )
( Escrito após um sonho ruim, que se tornou
realidade após 1 mês e 15 dias.)
Que presságio anda pela rua?
Andarilho ardiloso, secreto,
Que faz com que folhas morram
em pleno verdor da primavera ?
Que voz é esta que não fala,
que se esconde na mudez do seu disfarce,
que não poupa os risos do abandono,
camuflando-se entre crianças despreocupadas ?
Que cousa é esta que sufoca,
que nos torna náufrago de nós mesmos,
que não fala, não se manifesta,
mas que respira e inquieta?
Que secreta dor, o Sol nos aguarda
entre manhãs de ansiedades todas,
se clausuras se fecham enclausuradas,
enquanto o vento frio corta a noite?
Que feiticeiro é este sem diálogo,
poções, vassouras que o identifique,
que mostre o rosto nas águas azuis do lago,
se revele pelas falas que não disse?
Que mensageiro é este sem mensagem,
cuja tinta invisível o sonho esconde,
que passa galopando em seu cavalo
pisando vidas sem deixar traços?
Que lágrima invisível é esta
que se expande inundando as casas,
que parece que nunca se esgota,
que não se cansa em sua tristeza?
A rua parece-me absorvida,
silenciosamente acuada,
fechada em torno de si mesma,
que poderia IMPLODIR !