SABE COMO É?
Sabe como é, meu bem: você chegou tarde,
ou eu adiantada.
Não estou mais vestida, estou nua,
não sou mais pura nem desesperada.
Sou viva, ainda.
Felizmente(?)
Sou feita gente,
enfim e finalmente, e como dói.
É como areia nos olhos e gemidos de faróis.
Eu monstro pré-histórico das profundezas
amando os sons de uma torre e à sua voz,
atendendo ao chamado em noites limpas,
ou de névoas, eu presa
Do sonho inútil de encontrar um final.
Não há nenhum, e é tudo tão banal
Que rio e berro, de encontro à torre
Ela que é o grito do meu semelhante
Que me conforta e destrói,
ainda mais que antes.
A torre!
A torre que a noite oculta, e sinaliza o meu adeus...
Então, melhor matar, antes que seja ela como sou eu:
Inútil.
Fútil, como uma vida falsa.
Ou mesmo um pesadelo
de Lua ou sonho de valsa,
brilhando, como uma luz de neon.
Não há,
Na noite,
Mais nenhum som.
Volto ao fundo do mar...
E isto é tao bom...
A partir de:
A Sirene do Nevoeiro
(The Fog Horn)
DE RAY BRADBURY