Presunção e alarde
Coxo, cego, surdo, mudo
e quem não sofre de maleita;
menino grande ou miúdo,
jovem, gris ou mulher feita;
o bonito, o narigudo,
quem se casa ou se endireita;
capitu ou bento aspudo;
e o que sabe que a sujeita
não suporta o cabeludo,
mas com o bicudo se deita;
quem vive a jogar o ludo,
quem descansa ou se enfeita;
quem não põe o acento agudo,
quem prepara a colheita;
o que tem bastante estudo,
o que tem a mente estreita,
quem crê em inferno sanhudo,
ou quem professa uma seita;
quem de deus se sente rudo,
quem mantém a fé refeita;
o vil e o que tem escudo,
o que vive sem receita,
o vestido, o desnudo,
o que está sob suspeita;
o feliz, o carrancudo;
o que sofre uma desfeita,
e se enraivece, contudo,
logo esquece a despeita,
e veste em paz seu veludo,
com a canhota ou a direita;
– Mas que é vaidade, tudo,
e quase nada se aproveita!