Olhos do gado

O homem interiorano

Impressiona pelo singular

Qualquer duplo de sentido

É falha suspeitosa.

Chapéu, cigarro, cachaça licorosa

Do plantio de arroz quase a fartura

Mas a cidade não lhe ampara

Nem desampara

Apenas fixou no tempo,

Ausência e memória.

Há quem discurse o progresso

Da forma suada e marulhosa

Há quem gaste o amanhã

Na poeira espumosa

Há quem dispense arreios

Na gavalgada ulcerosa.

O pássaro mergulha só.

Recuado no vapor da aurora

Num longe mais que distante

De olhar, consulta, não graceja

Exceto por constatação.

O gado ali no pasto

Sem ponto ali, o gado

Pelo singular do homem

O gado, os olhos do gado.

A polidez do homem

Polidez lacônica

A polidez, a mesma

Dos olhos do gado.

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 21/10/2011
Reeditado em 16/09/2020
Código do texto: T3289494
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