Semente.
O grão deita no solo e jaz sem dono
Encontra a primavera distorcida
Transforma-se no pão de muitas vidas
Na luta que alimenta o desengano.
O pão falta na cota e conta o dano
E mães traçam acenos, despedidas;
Tocando o desespero sem medida
Na dor que se resolve em abandono.
A lágrima semeia no presente
Um filho despedido sem protesto;
Quando um futuro cego e indiferente
Mostra-se hostil, venal de tão contesto
E a vida vingará na tal semente,
Pois vermes brotarão dos nossos restos.