A Paz de Drummond
- Quando será a biópsia? E a consulta?
- Não sei. Dormi na asculta.
- Você tem que acreditar!
- Tenho? Prefiro alucinar.
- E tua idade, hein?
- Alucina comigo. Ficamos bem.
- Você tem que lutar!
- Tenho? É, você tem razão...
(como lhe explicar que já é o oitavo sermão?)
- Você é forte!
- Sou sim (adoram esse mote).
O meu ofício é responder;
é esconder
essa vontade de nada dizer.
Seria tão ótimo (gente que fala errado),
viver só de um lado.
- Olha, eu conheço um caso...
a Medicina está tão avançada...
para Deus nada é impossível...
Seria excelente (gente de linguajar fluente),
se a todos eu pudesse convecer
que não basta o exercício da vontade
para a cura lhes oferecer.
Mas não me queiram mal,
eu irei lhes agradecer.
Por favor, tentem compreender.
(Drummond, Drummond!
como se faz
para morrer na tua paz?)
* Inspirado no poema "Apelo aos meus dessemelhantes em favor da paz", de Carlos Drummond de Andrade.