O pássaro João, de Barros
O João, de Barros
É um pássaro
Com asas cosidas por espinhas de peixe gato
Que astuto se esgueira
Por baixo da ponte de luz
O João, de Barros
Não enfileira gravetos
Para erguer solitudes
Participa de bandos migrantes
E semeia pés de asas
Pra olhos famintos
O João, de Barros
Amamenta manhãs de arrebóis
Ele é mãe e pai fortes
Que regurgitam o vento
Enquanto tecem palavras
Construindo armaduras de encaixes
Que não podem ser desfeitas
Nem desmanchados os seus nós
É assim o pássaro João, de Barros
Ele avoa
E permite que vazemos o olho
De tanto querer saber
De sua trajetória bala
Pois não há borracha que apague
Ou vagalume que beirando a cigarra
Se espalhe
O pássaro João, de Barros
Sempre revelará em sua efígie
A esfinge que devora e rumina
Papéis rabiscados de sol
Homenagem ao pássaro João, de Manoel de Barros, que é ele mesmo sendo um quebra-cabeça de tudo construir.