Alberto
Alberto estava aberto
Subiu as nuvens e lá
colou palavras de papel nas paredes do céu
Para Alberto não existia tempo
pois Alberto estava aberto
E para Alberto, é certo,
não existia tempo concreto
Na Terra Alberto era velho
de barba branca e careca
Mas no céu brincava com barbantes
cuspia no chão e tirava meleca
(Vez em quando batia papo com Aristóteles e Platão)
Em vida Alberto lia pilhas de livros
com óculos de lente roxa...
(e para qualquer coisa sempre explicava com a filosofia da página 53 dos filósogos existencialistas e dos pensadores filosofistas)
Mas no céu não!
Não pensava em viver
Vivia para aprender
Lá no céu Alberto não se lembrou da sua moléstia de velho
Pois lá não tinha nem pentelho.
E lá perto do horizonte laranja e morno
(nas quintas do paraíso)
Tomava banho numa praia gelada
e depois ia correndo para casa recortar palavras num jornal
e mostrar à sua mãe
Lia:
"Sol , bonito, caracol"
e ela broncava:
"O Sol é bonito mas não tem caracol!"
Então Alberto, é certo,
Ia correndo para seu pai
Beijava suas mãos e chorava de peito aberto;
Lá em baixo, na Terra,
A chuva caía
A tempestade entornava
E suas doces lágrimas melavam as árvores
enchiam os rios e alimentavam os peixes.