RETRATO
Presa ao meu mundo, calabouço de esperanças e vida,
volto-me enfraquecida, já despojada da força e da alegria
tão bem vividas em pontos distantes
onde os sonhos traziam minhas verdades,
que somadas às suas floresciam em meio a tantas atrocidades..
Ainda paira no ar o cheiro do amor .
Nesse imenso salão vazio em que minha vida se transformou,
vejo como num retrato envelhecido, já corroído pelo tempo,
a imagem do que fomos, representada por sorrisos abstratos,
que hoje, capturados e aprisionados,
permanecem vivos apenas em meus pensamentos.
Olho-me novamente no vazio que me restou,
no sombrio retrato em que me faço presente agora,
perco-me nos espaços que como fantasmas me apavoram.
Tirania do tempo que num momento qualquer
despejou-me da vida em que fui mulher.
Hoje sou sombra,
lembranças inertes a vagar pelos espaços em ondas a procura de alicerces
onde possa manter o retrato, único bem ainda intacto,
da imagem do que foi um dia a vida que hoje em mim fenece.