O PALAVRÃO (homenagem a minha Tia Jacira Zanarella)
O PALAVRÃO
(homenagem a minha Tia Jacira Zanarella)
Sou mais novo que o meu primo
Para me provocar ele joga limo
O palavrão saiu sem nenhuma luta
“Você é um grande filho da puta!”
De nossas mães ele foi à procura
A minha teve uma crise de loucura
Ela me chamou de menino do diabo
Que iria me crescer dois chifres e rabo
O padre passou oração como castigo
Como se minha alma tivesse em perigo
Via o triste Jesus Cristo morto na cruz
Orava viajando com o pó contra a luz
A benzedeira falou que nada é tão claro
Que Deus sempre nos dará amparo
Rezou-me contra mau-olhado com arruda
Orou a Deus e aos santos para minha ajuda
Não existe o preto no caminho sozinho
Não existe o branco feito no carinho
Existe o contexto que a Deus pertence
Existem os desfechos que nos merece
Não há pessoas ruins totalmente
Não há quem na vida não mente
Existe o contexto que é a vida da gente
Isso faz que a vida nos seja mais atraente.
Na nossa vida tudo sempre muda
As pessoas mudam sem ter ajuda
Você mudara no piscar de Deus
O outono traz mudanças e adeus
Somos estranhos pássaros desalados
Somos intranqüilos e até desalmados
Tudo se transforma com a luz da noite
Seja no carinho ou sob a dor do açoite
Somos obesos demônios noturnos
Somos leves anjos de hábitos diurnos
Nos nossos sonhos somos o inconsciente
Tudo vem à tela de nossa mente
O palavrão não passou de uma lenda
Aliviado não precisava de reprimenda
Palavras doces podem fazer mais mal
Do que um palavrão falado intencional
Minha tia me falou depois de todo o alarde
Que ela foi atingida e disso saberia mais tarde
Mas antes soltar as magoa para fora
Do que guardar o mal para uma desforra
Primo, mãe, Padre e a benzedeira
Deixou-me como numa bebedeira
A vítima veio me falou com bondade
Mostrou-me uma alma sem igualdade
André Zanarella 01-08-2011
(o fato ocorreu sob as castanheiras, foi meu primeiro palavrão)