A FACE BELA DAS COISAS...

Abro-te o peito para que

arrebate de dentro de mim

a carta de amor que te escrevi;

mas por me faltar a audácia dos

jovens amantes jamais te enviei!

Sou assim mesmo:

é de mim que chove a calma,

daqui que choram os violinos,

minhas letras são anzóis e pescam

o que eu quero e preciso para viver!

Palavras escorrem de mim,

outros as apanham e degustam.

Alguns descobrem o sabor; outros

arrazoa-as sem sal, com gosto de nada.

São pescadores que pescam sem a isca!

Versos e palavras são folhas

caídas que vagam sem donos.

Frutas amadurecidas que sobram

da ceia das aves e tingem de carmim

o chão da trilha que marcha os apáticos!

Arranque a carta de amor

que jaz inerte dentro de mim.

Mas não a consuma toda, aprecie-a.

Se por mim nunca tivera afeição, quem

sabe surja antes que do papel as letras fujam!

Aproveite agora o doce

dessas palavras de amor.

São elas de outros tempos.

Hoje já não seriam perfeitas assim:

a face bela das coisas não é eterna!

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 15/10/2011
Código do texto: T3278584
Classificação de conteúdo: seguro