“FILHO MEU”



Este poema nasceu de um parto doloroso,
É que forcei o parto! Não havia o mínimo
Sinal da hora do seu nascimento – numa ação
Desesperada ou tudo ou nada – a decisão foi tomada!

Era questão de vida e de morte, cabia-me a decisão
De quem morreria e quem viveria – chance remota, ambos!
Seu eu abortasse o poema no meio do parto – morria o poema!
Restar-me-ia apenas o remorso de não ter dado à luz esse filho!

Seu não tentasse trazer à luz o poema – morria eu!
Explico: estava eu, numa noite de total solidão e vazio,
Tamanho era o vazio do meu ser - um corpo sem alma,
Podia-se dizer, as batidas do meu coração eram lentas!
Pensei: algo urge fazer! Já não sei se estou vivo ou morto!

Não há sinal mais convincente de vida que o nascimento,
Pensei, num inaudito esforço! Sim, eu teria de dar à luz
Mais um poema, filho meu, ainda que, em minha mente
E no meu coração, locais de gestação de poemas – vazio...

Teria de ser à cesariana: nada de notebook! À moda antiga!
Peguei o bisturi de quem escreve e passei a fazer cortes
Em linha reta e em círculo no papel, eu tinha de ser rápido,
O poema já começara a despontar, li a primeira estrofe – emoção!

Quando veio à luz a última estrofe, eu estava molhado de suor,
Mas, uma alegria incontida inundou todo o meu ser – vida, vida!
Eu havia conseguido, trouxera à luz mais um poema, meu filho!

 
Manoel de Almeida
Enviado por Manoel de Almeida em 14/10/2011
Código do texto: T3277197
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